Migrações, um elo de misturas
Todo o acto migratório
apresenta causas repulsivas, o indivíduo é forçado a migrar, devido a
problemas políticos, perseguições, guerras etc., e/ou atractivas,
acontece quando as pessoas vivem em países nos quais não há boas
condições de vida e de trabalho, são atraídas rumo a países
desenvolvidos, como Estados Unidos, países da Europa desenvolvida e
Japão.
A migração forçada, é uma
forma de controlar a sociedade, debaixo de regimes autoritários, mesmo
sob iniciativas livres, é o mais poderoso factor, no meio social de um
país (por exemplo: o crescimento da população urbana). Incluem-se neste
caso as migrações pendulares (Migrações feitas diariamente, em geral por
pessoas que trabalham noutro lugar fora da sua cidade, estado, região ou
até mesmo país, neste caso chamadas de "commuting") e as grandes
imigrações, onde os migrantes se fixam num país diferente, trazendo a
sua cultura e adoptando a do país de acolhimento. Os estudos recentes
nesta área vieram complicar esta visão dualista. Por exemplo, grande
parte dos migrantes, que nos dias de hoje mudam de país, continua a
manter práticas e redes de relações sociais, que se estendem entre o
país de origem e o de destino, interligando-os na sua experiência
migratória.
A integração dos
imigrantes nas sociedades de acolhimento é um processo complexo e
multifacetado, este processo de interacção, ajustamento e adaptação
mútua entre imigrantes e a sociedade de acolhimento, pelo qual ao longo
do tempo, as comunidades recém-chegadas e a população dos territórios de
chegada formam um todo integrado.
Antes da Segunda Guerra
Mundial, as principais áreas de repulsão populacional eram a Europa e a
Ásia, estas migrações eram causadas por fome, guerras, epidemias,
perseguições políticas e religiosas, enquanto as principais áreas de
atracção eram a América e a Oceânia, por sua vez estas migrações eram
causadas por colonizações, pelo crescimento económico, possibilidade de
enriquecimento etc.
Entretanto, devido ao
acentuado desenvolvimento do Japão e da Europa no período pós – Guerra,
essas áreas tornam-se importantes focos de atracção populacional, além,
é claro, dos EUA, que sempre foram e continuam a ser uma sociedade
atractiva.
Além das migrações
externas que implicam a movimentação de milhões de pessoas anualmente,
existem também as migrações internas, movimentos populacionais de
variados tipos, que acontecem no interior dos diferentes países de todo
o mundo.
Dentre as diversas
migrações internas, existe:
. Êxodo Rural –
Deslocamento de pessoas do meio rural (campo) para o meio urbano
(cidade). Ocorre principalmente nos países subdesenvolvidos (Haiti,
Iémen, Somália etc.) e sobretudo naqueles que experimentam um processo
de industrialização acelerado.
. Transumância – Migração
periódica (sazonal) e reversível (ida e volta) determinada pelo clima.
. Migração Interna –
Deslocamento feito dentro de um mesmo país. O indivíduo que realiza este
movimento é conhecido como migrante.
. Migração Externa –
Deslocamento feito entre os países. Ao sair o indivíduo fica conhecido
como emigrante, ao entrar ele será conhecido como imigrante.
. Migração Diversas –
Entre zonas rurais, entre áreas urbanas, migrações em direcção às áreas
de descobertas de minerais, migração de fim-de-semana entre outras.
Fig.2 Representação
animada do fenómeno migratório.
1Vem do latim trans (além
de) e húmus (a terra, a religião) significa a migração periódica de um
rebanho, da planície à montanha ou da montanha à planície, e isso em
função das condições climáticas ou da sazonalidade.
Fluxos Migratórios
Os fluxos populacionais
foram incrementados a partir do desenvolvimento do sistema de
transportes (Rodoviário, Hidroviário, Ferroviário e Aéreo) e das
telecomunicações, que ofereceram maior mobilidade às pessoas em todo o
mundo. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), aproximadamente
175 milhões de pessoas vivem fora do país de origem.
A maioria das migrações
internacionais ocorrem pela busca de trabalho. As principais correntes
migratórias advêm de Latino-Americanos, Africanos e Asiáticos em
direcção aos EUA, Europa e Japão. Os trabalhadores migrantes enviam
dinheiro para a sua terra de origem, algumas estimativas revelam que
eles movimentam anualmente cerca de 58 mil milhões de euros, o Brasil,
por exemplo recebe anualmente cerca de 2,8 mil milhões de euros,
enviados por brasileiros que vivem no exterior.
Outra situação onde
encontramos a migração internacional é quando falamos do fluxo de
refugiados, indivíduos que sofrem perseguições de ordem política,
religiosa ou étnica. Na década de 1970, havia cerca de 2,5 milhões de
refugiados, hoje esse número chega aos 25 milhões, consequentes de
acontecimentos 2geopolíticos como: o fim do socialismo, a diminuição de
ajudas financeiras e humanitárias e principalmente pela expansão do
fundamentalismo Islâmico.
São considerados migrantes
refugiados cerca de 25 milhões de pessoas, que foram obrigadas a deixar
os seus lares devido a problemas ambientais, como desflorestação,
desertificação, erosão dos solos e desastres químicos e nucleares.
As origens dos refugiados
são as mais variadas, mas na generalidade possuem algumas
características que se assemelham à origem dos países subdesenvolvidos,
nos quais o rendimento per capita médio está abaixo de 500 euros e
existe um grande índice de analfabetismo, existem também governos de
ditadura que violam os direitos humanos de determinada porção de
população, características que vão de encontro a perseguições políticas
e torturas, extermínio étnico e discriminações religiosas e culturais.
Por fim, existe um fluxo,
neste caso não é negativo, o turístico, neste os indivíduos são
motivados pela busca de lazer, cultura e religião, esse processo motiva
a comercialização de viagens em grande escala a um custo mais reduzidos
(pacotes de viagens), mas este tipo de fluxo não chega à carteira de
toda a população, mas sim a uma pequena parcela.
Fig.3 Representação dos
níveis de Emigração, Imigração e Emigração Clandestina entre 1910 e
2000.
Migrações internacionais:
Portugal como destino
A análise da emigração
portuguesa registada durante as últimas décadas testemunha as
adversidades porque tem vindo a passar este fenómeno, realçando, uma vez
mais na sua história, a relação destas saídas com o estado de
desenvolvimento de Portugal e com a evolução do mercado de mão – de –
obra internacional.
Se se tiver em
consideração a evolução deste movimento, em particular no decurso do
último século, verificasse como ele sofreu alterações muito
significativas em relação ao volume e destinos, à evolução e composição,
às causas e reflexos sobre a sociedade de origem. De facto, o aumento da
emigração portuguesa para a Europa registado durante a segunda metade do
século XX foi uma das consequências mais visíveis do processo de
crescimento, de desenvolvimento industrial e urbano que ocorreu nos
países do ocidente europeu no período seguido ao da segunda guerra
mundial.
A análise da recente
evolução da emigração portuguesa nas últimas décadas comprova as
alterações que se verificaram, sobretudo desde os anos setenta, quando
se acentuou a redução deste movimento em direcção aos países da Europa
ocidental e do continente norte-americano. Com efeito, se se comparar a
evolução deste movimento, adoptando como ponto de mudança a data do
agravamento da crise energética, do início de setenta, verifica-se o
seguinte:
. Entre 1955 e 1974, mais
de 1 milhão de portugueses saíram oficialmente do país, o que
corresponde a mais de 82.000 saídas/ano;
. Entre 1974 e 1988,
somente 230.00 portugueses abandonaram legalmente o país, montante que
corresponde a cerca de 15.000 saídas anuais.
Algumas consequências
imediatas das emigrações prendem-se com o ponto de vista demográfico, as
perdas de população por via directa das saídas e, por via indirecta,
como resultado dos nascimentos de descendestes de casais emigrantes, nos
seus países de destino. Em consequência deste movimento, a população
portuguesa regista um envelhecimento progressivo, quer devido à redução
dos nascimentos, quer ao aumento da população idosa.
Outros reflexos que podem
ser assinalados. Entre eles, o desigual crescimento urbano e industrial
e o aumento dos movimentos da população como destino aos principais
centros urbanos, agravando, desta forma, o processo de desertificação do
interior, que se tem vindo a acentuar no decurso das últimas décadas. No
entanto, apesar das transformações sócio-económicas e culturais
registadas na sociedade portuguesa, que levaram ao aumento do P.N.B
(Produto Nacional Bruto) e a uma melhoria significativa do nível de vida
da sua população, tal não bastou para estagnar o fenómeno emigratório
português que registou, durante o terceiro quarto do século XX, umas das
fases de maior expansão com destino quer à Europa quer mesmo ao
continente americano.
Contrariamente ao que já
sucedia com outros países da Europa mediterrânica, Portugal deixou de
ser um país de forte emigração para se constituir, recentemente, como um
ponto de atracção para novos emigrantes. Tendo em conta os valores
oficiais relacionados com a evolução da população de nacionalidade
estrangeira, habilitada com o título de residência válido, ou seja de
autorização de residência em Portugal, regista-se a existência de duas
fases distintas:
. A primeira corresponde
ao início da imigração estrangeira para Portugal, e vai de 1975 a 1984,
data em que este montante ascendeu a quase 100.000 habitantes;
. Entre 1984 e 1994, este
valor ultrapassou os cem milhares, elevando-se a mais de 150.000, nesta
última data;
. A segunda vai desde 1995
à actualidade, em que este valor quase duplicou, passando dos cerca de
150.000 imigrantes a cerca de 276.000, em 2005.
Como já foi referido, a
migração portuguesa é um fenómeno antigo, com múltiplas consequências
(económicas, demográficas e sociais) na sociedade portuguesa. Afectando
de forma diferente o nosso país, mas com características semelhantes no
conjunto deste movimento, tem vindo a alterar o sentido dos fluxos,
consoante as perspectivas de emprego registadas nos mercados europeus, e
a evolução das políticas sociais e laborais que condicionam,
globalmente, a progressão dos fenómenos migratórios.
Fig.4 Saldo Migratório
de Portugal em 2001
Identidades Culturais
A Identidade define-se
pela igualdade completa, por sua vez a Cultura é um adjectivo que
representa o saber, logo a junção das duas palavras produz o sentido de
saber, de se reconhecer. Muitas das questões contemporâneas sobre
cultura relacionam-se com as questões acerca da identidade. Por sua vez,
a discussão sobre a identidade cultural acaba por ser influenciada por
as questões sobre: lugar, género, raça, história, nacionalidade,
orientação sexual, crença religiosa e etnia.
Desde o surgimento do
homem, e após o agrupamento do mesmo e o convívio social, estabeleceu-se
uma troca de experiências mútua.
Todo o conjunto de
conhecimentos e modos de agir e pensar dá origem à cultura. Todas as
sociedades têm uma, pois não existe sociedade sem cultura.
Na perspectiva individual
ou colectiva da identidade, a cultura exerce um papel fundamental para
delinear as diversas personalidades, os padrões de conduta e ainda as
características próprias de cada ser humano.
O meio influencia e
modifica constantemente o ser, já que o nosso mundo é cheio de inovações
e características temporárias, as chamadas “modas”. Antigamente as
identidades eram conservadas devido à falta de contacto entre culturas
diferentes, porém com a globalização, isso mudou fazendo com que as
pessoas interagissem mais, entre si e com o mundo em seu redor. Uma
pessoa que nasce num determinado sítio absorve as características deste,
no entanto se ela for submetida a uma cultura diferente por um longo
período de tempo, ela irá adquirir as características do novo local,
onde está associada.
A identidade cultural move
os sentimentos, os valores, o folclore e uma infinidade de itens
impregnados nas mais variadas sociedades do mundo, e apresenta o reflexo
da convivência humana.
Fig.5 Representação das
Identidades Culturais.
Etnicidade: “O povo
cigano”
Origem
As fontes da História do
povo cigano são muito numerosas, mas muito dispersas.
Precisamente por se tratar
de um povo nómada e diferente, e desta forma tem atraído as atenções de
todos os curiosos profissionais: cronistas, jornalistas, romancistas,
poetas, músicos, artistas, etc.
Não é fácil sedentarizar
os nómadas. Muitas tentativas, a nível de Governos, têm falhado. O
cigano tem as viagens no sangue, tem o bicho-carpinteiro.
Há mil anos que partiram
da Índia e nunca lhes agradou fixar-se em acampamentos de mentira dos
campos da Europa Central.
Filhos da estrada e do
vento, como eles se dizem, adoptaram definitivamente um género de vida
muito diferente do nosso. Nem caçadores, nem agricultores, foram sempre
«recolectores» dos alimentos que a Natureza produz.
O problema sobre as
designações dadas ao povo cigano complica-se por várias razões.
. Por se tratar de um povo
sem história documentada, sendo uma cultura ágrafa (não tem registos
escritos até ao séc. XIX), todas as referências, que lhe são feitas por
estranhos, baseiam-se na tradição oral.
. Quase todas as
designações regionais ou nacionais, não nos conduzem a uma realidade
definida. Cada autor dá uma definição de cigano diferente.
. O conceito que a
sociedade forma de cigano dá, uma imagem muito próxima do mito,
estereótipo elaborado a partir de lendas populares, do cinema, de
reportagens, de jornais, etc.
Para explicar este
conceito, pode-se tentar aplicar o conceito de Etnia: «Um conjunto de
seres humanos unidos por um factor comum, tal como a nacionalidade,
religião, língua, bem como demais afinidades históricas e culturais».
Mesmo assim não é fácil, encontrar a definição de cigano, até porque se
esta for designada por um cigano, iriam haver muitas mais definições,
pois este pretende ser um «autêntico cigano».
Os ciganos, na sua maioria
acreditam na existência de outro mundo, para além da morte, uma
realidade extraterrena ou sobrenatural, como se pode demonstrar pelas
suas ideias religiosas e a sua concepção de Deus.
Contudo uma das certezas é
que, a índia foi o berço da cultura cigana, e que este povo fala um
dialecto próprio, o romani.
A migração do povo cigano,
a partir das Índias, obedeceu à mesma ordem geográficos que as de todos
os povos migradores, que sempre se deslocaram do Oriente para o
Ocidente.
Uma das perguntas que os
estudiosos fazem, prende-se com a razão pela qual o povo cigano teria
deixado a sua pátria de origem. Algumas das respostas são: conflitos com
povos vizinhos ou com invasores, a pobreza ou a esperança de encontrar
no ocidente melhores condições de vida. O talento especial dos ciganos
para a música e dança, bem como a arte dos metais, deviam
proporcionar-lhes ganhar melhor a vida entre povos diferentes.
Os ciganos em Portugal
O primeiro documento
escrito sobre os ciganos em Portugal é, de facto, a obra do dramaturgo
romano Plauto “A Farsa das Ciganas”.
O Alentejo foi a região
que sempre recebeu o maior número de ciganos. De certo que a sua
presença ali não era novidade para ninguém.
A província do Alentejo
prestava-se ao modo de vida cigana, como centro de expansão da sua vida
nómada, devido aos grandes espaços despovoados e campos, onde poderiam
alojar-se contra as perseguições que, em breve, lhes moveram as
instâncias oficiais.
É provável que a entrada
dos ciganos no nosso país não seja muito anterior ao final do século XV,
possivelmente teriam fugido para Portugal, devido às medidas repressivas
dos Reis Católicos.
Não é de hoje que os
ciganos foram acusados e penalizados pelas suas crueldades. Nas Cortes,
este eram acusados de furtos, de fazerem feitiçarias, de insultarem o
povo, mais á frente eram-lhes atribuídos crimes como, de viverem junto
aos bairros (tal como os judeus e mouros), serem vagabundos e viverem em
ranchos ou quadrilhas, entre outros.
Os ciganos e os poderes
públicos
Durante as primeiras
viagens, quando os ciganos praticavam alguns roubos, a justiça local
tratava esses casos como outros quaisquer delitos. Por vezes,
consentiu-se que os chefes desses bandos gerissem a justiça das suas
gentes. Mas nunca foram levados a sério, quando eles pretendiam escapar
à justiça afirmando que o chefe lhes permitia que roubassem impunemente
durante os sete anos da sua peregrinação. Mais tarde, as frequentes
queixas dos residentes contra esses bandos, o medo que eles inspiravam
aos rurais, a má reputação baseados em malefícios e em crimes
imaginários, incitaram os governantes a regulamentar o problema dos
ciganos.
A maior parte dos estados
europeus tentou, ou fixá-los, ou desembaraçar-se deles, expulsando-os.
Ao tentar fixar esses errantes, era obrigá-los a fundir-se nas
populações locais, fazendo-os desaparecer. Eles, porém recusavam e
teimavam em manter o seu modo de vida errante e os seus costumes.
Muitas leis foram
concebidas para bani-los do território, mas a maior parte delas foram
inúteis. Oficialmente expulsos, os ciganos continuavam por toda a parte,
passando fronteiras de um país a outro, escondendo-se em florestas ou
longe da povoação, perto das fronteiras.
«Despotismo iluminado»
e a assimilação forçada
O «3despotismo iluminado»
do século XVIII pretendeu acabar com alguns séculos de perseguição do
povo cigano. Pretendeu-se a assimilação forçada dos ciganos, fazendo
deles cidadãos semelhantes aos outros, despojando-os de todas as suas
tradições. Era o seu aniquilamento, sem expulsão nem genocídio.
Embora as intenções dos
soberanos fossem aceitáveis, as medidas eram incidentes cruéis. Assim,
em 1773, toda as crianças com mais de cinco anos foram arrancadas aos
pais, transportadas para aldeias afastadas e confiadas a camponeses que
as aceitavam em troca de pagamento. Os ciganos venderam os gados e as
alfaias agrícolas recebidas, abandonaram as casas para irem viver nas
tendas, reagrupando-se nas montanhas, e as crianças que lhes foram
tiradas fugiam para se juntar aos pais.
Com o imperador José II da
Áustria e Carlos III de Espanha abre-se para os ciganos uma nova era. O
rei espanhol pretendeu a integração social dos ciganos, até então
odiados e perseguidos.
Deste modo os ciganos
podiam aspirar a todos os empregos e fazer parte de todas as
comunidades, devendo apenas fixar residência e escolher uma profissão
honrada.
Aqueles que não aceitassem
tais determinações e continuassem a vaguear seriam presos e marcados com
um ferro em brasa no dorso, os seus filhos seriam confiados a abrigos ou
instituições de caridade ou de ensino.
Em suma, a maior parte dos
legisladores, na sua política para com os ciganos, ignoraram a sua
psicologia e trataram-nos apenas como membros duma classe perigosa e sem
moral, usavam apenas a repressão e forçaram a sua marginalização social.
3Forma de governar
característica da Europa da segunda metade do século XVIII, que embora
partilhe com o absolutismo a exaltação do Estado e do poder do soberano,
é animada pelos ideais de progresso, reforma e filantropia do
Iluminismo.
A vida privada dos
ciganos
A vida privada do cigano
tem um aspecto diferente da vida pública. Eles são muito solidários, não
cometem roubos entre si, não mentem uns aos outros, nem se enganam
mutuamente, no entanto discutem e brigam muitas vezes. O chefe de
família tem toda a autoridade sobre a sua mulher e os filhos e ninguém
pode interferir no seu lar.
Os casamentos são os
principais actos da sua vida, eles observam-nos segundo a tradição. A
finalidade primária do casamento é a procriação, e a secundária é a
necessidade sexual. Em geral, desde que os pais se entendam entre si e
com os jovens, as filhas aceitam. Fazem a boda com certo brilho e por
vezes a festa prolonga-se por uma semana.
Em Portugal a cerimónia da
boda cigana vai-se perdendo. Geralmente o casamento tradicional é apenas
um contrato entre os noivos para a vida em comum, sujeitando-se a todas
as imposições da família.
Fig.6 As raparigas
desde muito cedo constituem família, tendo mais que um filho
Crianças
Desde muito cedo,
desenvolve-se na criança ciganos sentimento vivo de autonomia moral: ela
adquire a coragem de aceitar as consequências dos seus actos, quaisquer
que eles sejam.
A comunidade cigana trata
as crianças com todo o carinho, preparando-as para a luta.
A partir dos 14-15 anos de
idade o rapaz pode receber uma companheira, realizar a sua virilidade, e
tornar-se um verdadeiro cigano. Até aí ele não tinha a menor importância
social e não participava das conversas dos homens.
As raparigas por volta da
mesma idade, já estão preparadas para se tornarem companheiras/mulheres,
estão prontas para dar á luz e começarem a sua vida como donas de casa.
O povo cigano, não acha
importante a escola e os estudos, pensam que tudo o que é necessário
aprender, é adquirido dentro de casa e ao longo da vida.
Fig.7 Desde cedo as
raparigas começam a ser mulheres/mães e donas de casa.
O sentimento de
rejeição nos ciganos
Fixados em Portugal, há
várias gerações, os ciganos consideram-se portugueses. Mas, ao mesmo
tempo, devido ao permanente isolamento e perseguição, eles sentem-se
excluídos da sociedade. Sem esperanças de mudança, conformam-se num
grande fatalismo.
Muitos pagam impostos,
servem no exército, têm um negócio, e consideram-se cidadãos como os
restantes portugueses.
Contudo, sentem-se
rejeitados e perseguidos pelas autoridades, que os controlam
constantemente, na sua vida de viajante. Estes queixam-se da injustiça
com que são tratados, só pelo facto de serem ciganos.
Este povo tem a esperança
na actual mudança da política do nosso país que se volte para as camadas
mais desprotegidas da população, no sentido de uma promoção social a
todos os níveis.
Ninguém contesta que os
Ciganos são um povo marginalizado.
Se é verdade que, no seio
desta etnia há muitos maus que vivem à margem da lei, são muitos mais os
não-ciganos que, presumindo de honrados vestem o papel do cabritinho,
quando na verdade não passam de lobos.
A nossa sociedade de
consumo não conhece os ciganos. Ignoramos que “as regras de moral
diferem com o tempo, a raça e as crenças das várias culturas”. Não se
pode ajuizar do comportamento dum povo, sem ter em conta a sua
particular constituição.
Diferenças entre as
actividades masculinas e as femininas
A escolha das actividades
artesanais dos ciganos tem a sua explicação na vida nómada.
Existe entre eles a
divisão sexual do trabalho: os homens exercem a actividade produtiva,
por sua vez as mulheres geralmente fazem a venda ambulante e lêem a
sina, e por este meio recolhem dinheiro para casa.
As crianças são criadas
praticamente sozinhas ou com os irmãos mais velhos.
De resto, são as mulheres
que geralmente guardam o dinheiro e fazem as compras.
É conveniente que as
ocupações sejam compatíveis com a vida nómada, compreendendo uma
utilização rudimentar, fácil de transportar.
Fig.8 Mulher cigana a
vender numa feira.
A integração e a
Assimilação
Os contactos sociais, que
dantes eram apenas secundários e externos, hoje têm maior impacto,
devido aos poderosos meios de comunicação de massas (rádio, TV,
imprensa, etc.).
Quando duas culturas
diferentes entram em contacto podem-se observar uma de três situações:
Adaptação, Integração e a Assimilação, no entanto vão ser focadas as
duas últimas.
. Integração – Uma das
culturas envolve outra nas suas próprias instituições. A cultura
envolvida poderá conservar a sua especialidade.
. Assimilação – O grupo é
absorvido e perde a sua personalidade e outros elementos da sua
identidade cultural, quando entra em contacto com a sociedade ou cultura
dominante.
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