RELAÇÕES FRONTEIRIÇAS ENTRE BRASIL E ARGENTINA: ESTUDO DE CASO A PARTIR DAS CIDADES DE ITAPIRANGA E DIONÍSIO CERQUEIRA, NO OESTE DE SANTA CATARINA
1. INTRODUÇÃO
O presente
trabalho diz respeito a um estudo de caso realizado pelos acadêmicos da sétima
fase (matutino), do curso de Geografia (Licenciatura), da Universidade Federal
da Fronteira Sul, campus Chapecó, sobre as relações fronteiriças entre Brasil e
Argentina. Este texto é denominado um estudo de caso porque as relações
fronteiriças entre Brasil e Argentina serão aqui abordadas a partir de trabalho
de campo realizado nas cidades de Itapiranga e Dionísio Cerqueira, ambas localizadas na fronteira com a Argentina, no oeste de
Santa Catarina.
Conforme
(FERRARI, 2011), a fronteira é concebida como área ou zona geográfica, sendo um
espaço social que transgride o limite político-territorial, cuja dimensão varia
de acordo com as relações de diferentes naturezas estabelecidas pelos países
vizinhos. Sendo assim, a fronteira entre Brasil e Argentina, especificamente no
que se refere à divisa com o estado de Santa Catarina, representa um espaço
geográfico com fortes interações sociais, culturais e econômicas; muitas vezes
esquecidas pelos órgãos públicos por estarem localizadas a grandes distâncias
dos centros administrativos do país.
Para Machado (1998), quando abordamos a palavra fronteira, precisamos ter
presente que ela implica, historicamente, aquilo que sua etimologia sugere, ou
seja, o que está na frente. A origem da palavra mostra que seu uso não estava
associado a nenhum conceito legal e que não era um conceito essencialmente
político ou intelectual. Nasceu como um fenômeno da vida social espontânea,
indicando a margem do mundo habitado (MACHADO, 1998). Com o passar do tempo, na
medida em que os padrões das sociedades foram se desenvolvendo acima do nível
de subsistência, as fronteiras foram adquirindo um caráter político.
Atualmente, quando se discute sobre fronteira, de modo especial na geografia,
ela está respectivamente relacionada ao território, à geopolítica, à geografia
econômica, a transterritorialidade (HAESBAERT, 2012), aos fluxos e fixos
(SANTOS, 1997), dentre outros temas.
Nesta
perspectiva, objetivando uma discussão teórica acerca dos conceitos de
fronteira, limite, território, geopolítica e redes de comércio; o item dois
abordará as relações entre Brasil e Argentina, o item três discutirá a relação
da cidade de Dionísio com a Argentina, o
item quatro abordará o processo de
colonização da cidade de Itapiranga, bem como sua relação com a Argentina. Por fim, dar-se-á um “fechamento” do assunto a partir de
algumas considerações finais, constatadas no decorrer da elaboração do estudo
de caso.
2. RELAÇÕES
FRONTEIRIÇAS ENTRE BRASIL E ARGENTINA
Levando em
conta a etimologia da palavra “fronteira”, Martin (1992, p. 21) esclarece que
“a palavra fronteira é derivada do latin “fronteria” ou “frontaria”, que
indicava a parte do território situada “in fronte”, isto é, nas margens”. Dada
a importância do conceito de fronteira, é notável que seu retrospecto histórico
ocupa lugar estratégico no território. Para Machado (1998), o surgimento do
conceito de fronteira está ligado não à ideia de fim, mas a ideia do começo do
Estado, sendo este o lugar para onde ele tenderia sua expansão territorial.
A partir do
momento em que o Estado Moderno (DIETZ, 2008) atinge um controle territorial
“absoluto”, a fronteira passa a significar limite sagrado. As mudanças
ocorridas sobre o conceito de fronteira, em grande parte, estão atreladas,
sobretudo, ao surgimento da cartografia, onde “o mapa passa a ser instrumento
ideal para definir, delimitar e demarcar a fronteira” (RAFFESTIN, 1993, p. 78).
Vinculado as possibilidades trazidas pela cartografia, as nações passaram a
projetar seus domínios territoriais numa tentativa de expandir suas posses.
Fato
muito peculiar neste sentido é a divisão mundial dada pelo Tratado de
Tordesilhas assinado entre Portugal e Espanha (MARTIN, 1992). Assim, paralelo
ao surgimento de nações poderosas, ocorre a consolidação de fronteiras por elas
definidas e a submissão dos demais lugares do mundo (DIETZ, 2008, p. 33).
No que tange
as relações fronteiriças entre Brasil e Argentina, levando em conta o número de
acordos assinados nos últimos tempos, volumes das trocas comerciais e das redes
de cooperação; podemos dizer que se estabeleceu entre Brasil e Argentina uma
relação transfronteiriça, com certa “liberdade” de ir e vir, principalmente
para grupos que vivem próximo aos limites fronteiriços desses países.
O estado de
Santa Catarina e do Rio Grande do Sul (Brasil), na fronteira com a Argentina,
limitam-se com as províncias de Missiones e Corrientes, que por sua vez, são as
duas unidades federativas mais empobrecidas da Argentina. De acordo com Dietz
(2008), a situação geográfica dessas duas províncias, por longo período,
determinou que fosse realizado reduzido número de investimentos públicos nessa
região. Os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, apesar de possuírem
um grau de industrialização superior, também possuem reflexos negativos
vinculados às políticas restritivas adotadas em relação às regiões de fronteira
e distantes dos grandes centros administrativos.
A nova
reconfiguração regional, oriunda da criação do bloco econômico do Mercosul fez
com que as províncias fronteiriças, como um todo, passassem a assumir um novo
papel dentro dos cenários nacional e sul-americano. De acordo com Dietz (2008),
Missiones, Corrientes, Rio Grande do Sul e Santa Catarina foram marcados
historicamente por dificuldades derivadas das grandes distâncias dos seus
centros administrativos nacionais, no entanto, passaram a adquirir função
estratégica em virtude de sua localização central no Mercosul. Sendo assim, a
região fronteiriça de Santa Catarina e Rio Grande do Sul transformaram-se em um
território elo de articulação internacional. Os novos acordos entre os governos
dos dois países fazem aparecer “novos usos políticos e econômicos destes
territórios” (DIETZ, 2008, p. 20).
Portanto, cabe
dizer que, embora haja desafios, o Mercosul significou e significa o coroamento
das relações entre Brasil e Argentina. Neste sentido, ambos os países colocam
em prática planos de estabilização, com modernização, privatização e redução de
tarifas, por exemplo, mas estes elementos, em si, não são suficientes para a
retomada ou mesmo a continuidade do desenvolvimento. É preciso que seja
articulada uma política industrial tecnológica comum. Por essas razões, cada
país, embora seja pertinente ressaltar sobre as profícuas relações comerciais
existentes, deve traçar metas e desafios que os levem ao desenvolvimento, à
diminuição da desigualdade socioespacial e ao melhoramento dos índices de
desenvolvimento humano.
Atualmente
Brasil e Argentina são as duas maiores potencias econômicas do Mercosul e são
países que possuem expressivas interelações fronteiriças. De acordo com Dietz
(2008),
Existem
muitas semelhanças entre Brasil e Argentina nas suas regiões de fronteira.
Cammarata (2001) aponta que, sobretudo na região transfronteiriça conformada
com Missiones, noroeste do Rio Grande do Sul e porções ocidentais de Santa
Catarina e Paraná, existem muitos elementos em comum. São eles: uma matriz
sociocultural histórica comum, tendo em vista às reduções jesuíticas dos
séculos XVII e XVIII; um processo de repovoamento simultâneo e similar,
colonização agrícola semelhante com imigrantes europeus e de seus descendentes;
grupo populacional capaz de articular-se com mais de uma nação e de manejar
varias línguas e códigos culturais simultaneamente; é um espaço traspassado por
mensagens radiofônicas, televisivas, gráficas, etc; e possui comércio ativo e
contrabando ainda relevante (DIETZ, 2008, p. 49).
Nesta
perspectiva, seguiremos discutindo a relação da cidade de Dionísio Cerqueira
com a Argentina, a partir de revisão bibliográfica e das entrevistas
realizadas, no trabalho de campo, com moradores da cidade.
3. A RELAÇÃO DA
CIDADE DE DIONÍSIO CERQUEIRA COM A ARGETINA
A cidade de
Dionísio Cerqueira localiza-se no norte do extremo-oeste de Santa Catarina
(mapa 03). Segundo estimativas do IBGE (2014), a cidade conta com uma população
de 15.283 habitantes, além de possuir uma área de 379,189km², apresentando,
dessa forma, uma densidade demográfica de 39,06 habitantes por Km². Dionísio
Cerqueira é, portanto, populacionalmente menos densa que Itapiranga. A Leste o
município se limita com Palma Sola e Flor da Serra do Sul, ao Sul com Guarujá
do Sul e Princesa e a Oeste faz fronteira com a Argentina e ao Norte com o
estado do Paraná. A formação territorial de Itapiranga envolve, portanto,
limites (com municípios do estado de Santa Catarina) e fronteiras (com a
Argentina e o estado do Paraná).
As
características fronteiriças de Dionísio Cerqueira estão relacionadas a uma
formação socioespacial de fortes relações com a Argentina e o estado do Paraná,
mais especificamente com a cidade de Barracão/PR (mapa 1). Corroborando com
(COSTA, 1988), a região de estudo possui características peculiares complexas,
pelo fato de se tratar de cidades administrativamente independentes, separadas
por uma linha imaginária e ao mesmo tempo, sob o aspecto legal da divisa
territorial. É nesse local que se juntam o extremo Sudoeste do Paraná, extremo
Oeste Catarinense e extremo Oriente Argentino, constituindo uma conurbação com
uma população aproximada de 30 mil habitantes. Sendo que Barracão possui uma
população estimada de 9.737 habitantes e sua extensão territorial é de 177,6
Km²; e, Bernardo de Irigoyen que possui uma população estimada de 5.526
habitantes.
As evidencias
decorrentes da análise permitem que identifiquemos diferenças na formação
socioespacial de Itapiranga. Compreender as contradições presentes no espaço é
o objetivo do conhecimento geográfico. É preciso considerar o espaço geográfico
a partir de vários aspectos interligados e interdependentes, os fenômenos
naturais e a ação humana, as transformações impostas pelas relações sociais e
as questões ambientais de alcance, neste caso, sobre as relações fronteiriças entre Brasil
e Argentina.
Nesta perspectiva, a partir das entrevistas realizadas na cidade
de Dionísio Cerqueira, o primeiro entrevistado (65 anos), é natural do Rio Grande do Sul e atualmente
reside na cidade de Barracão/PR. Segundo ele, nem todas as mercadorias
argentinas podem ser trazidas para o Brasil, e compradas em excesso. Ela tem
alguns amigos na Argentina e a amiga de sua esposa reside em São Pedro, que faz
parte da fronteira seca.
O segundo entrevistado, com
50 anos, trabalha em Marmeleiro/PR, nasceu em Barracão/PR e atualmente reside
em Dionísio Cerqueira/SC. Ele ressalta que faz compras na Argentina e trás as
mercadorias para o Brasil sem nenhum impedimento. Sua esposa é argentina. Com a
união de um brasileiro e uma argentina, ambos passam a ter privilégios nos dois
países. A esposa de Adelino consegue fazer tudo no Brasil, exceto votar. “Na
fronteira existe bastante preconceito entre brasileiros e argentinos,
principalmente em época de Copa do Mundo”, diz ele.
Terceiro entrevistado, 32
anos e proprietário de uma Loja de materiais eletrônicos e manutenção de
computadores, diz que boa parte da população brasileira vai para Argentina com
o intuito de comprar, bebidas, produtos de limpeza e cosméticos, mas em termos
de relação, os argentinos dependem dos brasileiros e os brasileiros dependem
dos argentinos. Ele relata também, que quando um brasileiro entra na Argentina,
é tratado como um “qualquer”. Evidenciou também a diferença entre duas cidades
pelos postes, ou seja, os postes com faixas verdes e amarelas e de forma
arredondada pertencem a Dionísio Cerqueira/SC e os de formato quadrado e
brancos pertencem a Barracão/PR. Esse é um fator característico de região de
fronteira seca assim afirma.
O quarto entrevistado é
nascido e criado em Dionísio Cerqueira. De 54 anos, é empresário aposentado.
Segundo ele, o comércio da região está morrendo, principalmente devido ao fator
do peso argentino, sendo impossível competir com o comércio de lá. Naquela
região destaca-se a venda da erva-mate de missiones, que possui uma excelente
procura e segundo ele é de boa qualidade, muito citado também por outros
entrevistados. Ele ressalta também que a Polícia da Argentina “Gendermería Nacional”, é
mal educada com os brasileiros, e que se por ventura, um veículos brasileiro,
furtado no Brasil, entrar em território argentino as chances de recuperação são
mínimas..
A partir das leituras,
discussões e entrevistas realizadas sobre Dionísio Cerqueira, é possível dizer
que está cidade faz parte de uma conurbação, juntamente com Bernado de Irigoyen/ARG
e Barracão/PR. Apresenta fortes relações comerciais com a Argentina e é
receptora de pessoas de toda a região (SC e PR) que se deslocam até Bernardo de
Irigoyen para fazer compras. A formação socioespacial de Dionísio Cerqueira se
deu, no início do século XX, pela forte presença do comércio de erva-mate com a
Argentina. Atualmente as relações comerciais são bastante marcantes na
cotidianidade das três cidades que compreendem a região em discussão e a partir
dessas relações se desdobram novas formas, eventos e conteúdos do território.
Neste sentido,
o fato de Dionísio Cerqueira, sua Fronteira estar situada próxima a Barracão/PR
e em local onde, do lado argentino, existe outra cidade (Bernardo de Irigoyen),
faz com que identifiquemos nestas três cidades uma conurbação, com estreitas
relações entre as cidades. Historicamente Dionísio Cerqueira é porta de entrada
e saída de produtos brasileiros e argentinos, sendo que essas relações
comerciais se mantêm até hoje. Houve momentos, no decorrer do tempo, em que o
proveito da Argentina era maior e em outros o Brasil era beneficiado, devido às
variações das cotações de moedas argentinas e brasileiras.
4. A RELAÇÃO DA
CIDADE DE ITAPIRANGA COM A ARGENTINA
A cidade de
Itapiranga localiza-se no sul do extremo-oeste de Santa Catarina (mapa 02).
Segundo estimativas do IBGE (2014), a cidade conta com uma população de 16.253
habitantes, além de possuir uma área de 282,704km², apresentando, dessa forma,
uma densidade demográfica de 54,51 habitantes por Km². A Leste o município se
limita com São João do Oeste, ao Norte com Tunápolis e a Oeste faz fronteira
com a Argentina e ao Sul com o estado do Rio Grande do Sul. A formação
territorial Itapiranga, envolve, portanto, limites (com municípios do estado de
Santa Catarina) e fronteiras (com a Argentina e o estado do Rio Grande do Sul).
As
características fronteiriças de Itapiranga estão relacionadas a uma formação
socioespacial que representou a vinda de imigrantes alemães para a cidade. Os
imigrantes alemães se instalaram em Itapiranga e região visando à colonização
das terras e o desenvolvimento da região. Itapiranga não teve sua formação
territorial a partir das relações com a Argentina, país que o município faz
fronteira. Dessa forma, a cidade brasileira não mantém vínculos econômicos e
comerciais com a Argentina, em sua área de fronteira.
Tendo em conta as entrevistas realizadas na cidade de
Itapiranga, ao serem interrogados sobre as relações de comércio com a
Argentina, os moradores se mostravam um tanto inacessíveis, mas respondiam que
naquelas proximidades as relações de comércio com a Argentina são inexistentes.
No entanto, alguns relataram que se deslocam pelo menos duas vezes ao ano até
Dionísio Cerqueira, para fazer compras na cidade de Bernad de Irigoyen. Esse
dado mostra que a formação socioespacial de Itapiranga não se deu a partir das
relações comerciais com a Argentina, mas sim a partir de outros fatores, como o
da migração, por exemplo. Nesta perspectiva, veremos o que as pessoas
entrevistas disseram sobre as relações entre Brasil e Argentina.
A primeira pessoa
entrevistada tinha 38 anos e era natural de Itapiranga. Segundo a pessoa
entrevistada, já foi algumas vezes para a Argentina, na cidade de Bernado de
Yrigoyen, mas não comprou muitas coisas. Não possui familiar e nem amigo na e
ressaltou que muitos produtos comercializados na Argentina apresentam um preço
mais acessível e por isso atrai a população brasileira para comprar.
A segunda pessoa (49 anos)
entrevistada, natural de Barracão/RS, mudou-se para Itapiranga com cinco anos
de idade e depois de alguns anos voltou para sua terra de origem por problemas
familiares, mas segundo suas informações, boa parte da população de Itapiranga
vem do interior. Conta também, que boa parte da população Itapiranguense
realiza compras na Argentina, pois os produtos são mais baratos em relação ao
Brasil, citando produtos de limpeza, gás de cozinha, bebidas em geral e
cigarros; como os mais baratos.
A terceira pessoa
(Francisco, 39 anos) entrevistada é um empresário, gerente de uma revenda de automóveis, na Rua Tenente
Portella, natural do Rio Grande do Sul. O mesmo relata que muitas pessoas se
dirigem toda semana para a Argentina, pois os produtos de limpeza, a cerveja e
alguns outros produtos chegam a custar duas e até três vezes menos em
comparação com o Brasil (produtos de mesma marca e mesmo volume), possui uma
tia na Argentina e mantém contato, conversando e visitando frequentemente ela.
A quarta pessoa (40 anos)
entrevistada é uma empresária, gerente de uma loja de calçados e confecções na
cidade de Itapiranga. Segundo ela, havia muita mata nativa há algumas décadas
atrás, dificultando o controle e monitoramento na região. Residia na Linha
Becker, e costumeiramente viaja para Bernad de Irigoyen para comprar mercadorias na
Argentina. Ela diz que a cidade vive em razão da agroindústria presente no
município, movimentando a economia local e gerando muitos empregos.
A quinta e última pessoa
(Pedro 54 anos) nasceu e se criou no interior de Itapiranga, de origem Alemã, o
entrevistado afirma que “em Itapiranga não foi utilizado à erva-mate como
recurso e produção”.
Neste sentido, a partir de um breve resgate histórico a
respeito da colonização do Oeste de Santa Catarina, entende-se que no estado de Santa Catarina,
a colonização, principalmente por descendentes europeus (italianos, alemães,
poloneses, dentre outros), contribuiu para o desenvolvimento das pequenas
propriedades rurais. De acordo com Goularti Filho (2002), desenvolveu-se
no oeste de Santa Catarina uma colonização baseada no sistema colônia-venda e
na pequena propriedade, que era voltado para a economia de subsistência e para
a comercialização do excedente, estimulando, desde cedo, a formação de um
mercado interno. Havia um universo de pequenas atividades comerciais e
manufatureiras como: mercearias, atafonas, marcenarias, moinhos, fábricas de
queijo e salame, fábricas de caixas e de sapatos e fundição. Esse regime de
produção, baseado na pequena propriedade, permitiu uma acumulação pulverizada
dos modos de produção da agricultura familiar. Esses aspectos se assemelham a
formação socioespacial e ao desenvolvimento de Itapiranga.
Portanto, é relevante dizer
que o processo de formação de Itapiranga não está vinculado com a economia ou
outras relações com a Argentina. A migração alemã constituiu uma formação territorial
diferenciada, ligada à produção agrícola de pequena escala e a um modelo
desenvolvimentista da região, independente do território argentino. No entanto,
atualmente a população tem o costume de se deslocar até Bernado de Irigoyen para fazer compras, sendo esse o local de maior
vínculo com o território argentino.
6. CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A reflexão
sobre as realidades e a prática do trabalho de campo nas cidades de Itapiranga
e Dionísio Cerqueira nos permite identificar e caracterizar o território de
fronteira e, sobretudo, as relações fronteiriças entre Brasil e Argentina a partir
das cidades supracitadas.
Portanto,
cabe ressaltar que a formação socioespacial de cada local se dá de forma
diferente. Exemplo disso são as cidades de Chapecó, Itapiranga e Dionísio
Cerqueira, no Oeste de Santa Catarina. No entanto, essa formação diferente não
deixa de fazer parte das relações fronteiriças entre os dois países.
Ocorre
que cada uma herda uma relação histórica diferente com a Argentina, resultando
em uma formação socioespacial diferenciada, em boa medida, ficando ancorada nas
decisões políticas, sociais e econômicas estabelecidas entre os países e
refletidas principalmente nos locais próximos a linha de fronteira. Dessa
forma, vale dizer, ao passo que Dionísio Cerqueira possui uma forte relação
comercial com a Argentina, Itapiranga se desenvolve a partir da migração alemã,
que implanta um modelo desenvolvimentista voltado para as pequenas propriedades
rurais, com fortes ligações com a agricultura e o comércio local.
7. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Geociências. Programa
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(Org.). Territorialidades
transfronteiriças na zona de fronteira seca internacional Brasil-Argentina. In:
Territorialidades Humanas e redes sociais. Florianópolis: Insular, 2011.
GOULARTI FILHO, Alcides. A
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HAESBAERT, Rogério. Território
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espacial zonal da luta política. Campo-território:
revista de geografia agrária. Edição especial do XXI ENGA. 2012.
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Cidades. http://www.cidades.ibge.gov.br/ Acesso em Nov. de 2014.
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T. M. Strohaecker, A. Damiani, N. O. Schaffer, N. Bauth, V. S. Dutra
(org.). Fronteiras e Espaço Global: AGB-Porto Alegre, p.41-49, 1998.
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Contexto, 1992.
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo:
Ática, 1993.
SANTOS,
Milton.
A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 2ª Edição, São Paulo: Hucitec, 1997.
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