4 DIALOGANDO COM A ESCOLA ACERCA DA EDUCAÇÃO CIDADÃ NA GEOGRAFIA
Neste capítulo, destacamos a
discriminação da metodologia no que se refere ao campo empírico, com destaque
para os sujeitos do Ensino Médio, a explicitação do percurso de diálogo com os
estudantes de Ensino Médio e os apontamentos dos alunos na relação entre
Geografia e cidadania.
4.1
OS SUJEITOS DO ENSINO MÉDIO
A
adolescência/juventude é uma fase de grande relevância social que se
caracteriza por um afloramento maior das ditas emoções, que marcam o surgimento
de inúmeras contestações e questionamentos. O jovem percebe falhas em relação
às orientações e regras construídas pelos pais e caminha rumo à construção de
valores próprios, o que lhes propiciará ver o mundo de outra forma. Tal fato
possui muitos condicionamentos, que se referem, por sua vez, à consistência dos
valores repassados pela família e ao poder de outros meios externos de grande
influência.
Diante da descoberta da
própria identidade, é de suma importância que o jovem considere também a
importância de descobrir-se como ser que não vive somente para si, mas que
inclui sentido em sua vida a partir da vivência com os outros indivíduos que
compõem a sociedade, ou seja, torna-se relevante a adoção de comportamentos que
façam parte de uma prática cidadã.
Deve-se considerar, no
entanto, que o ser humano recebe influências diretas e indiretas do contexto
físico e social que o acolhe. No decorrer de seu desenvolvimento, várias fontes
atuam no repasse de informações e valores que, construindo um processo amplo e
abrangente, definem padrões de pensamento e atitudes. Sua conduta vai sendo
construída de acordo com as relações que são estabelecidas e cultivadas internamente
a seu meio de convivência.
Os jovens, atualmente,
possuem diversas fontes de pesquisa, diferentemente do que se dava há 50 anos,
nas mais diversas profissões; ora, até mesmo o professor precisa propor novas
práticas pedagógicas, capazes de motivar o aluno para as constantes mudanças na
sociedade. As pessoas estão compartilhando ideias, isto é, dialogando sobre os
mais diversos assuntos da sociedade, de forma menos intensa na presença física;
o diálogo é restrito e, consequentemente, a convivência é muito mais limitada.
No entanto, o compartilhamento das ideias se dá em uma abrangência muito maior
unicamente através das redes sociais – pouco democráticas e limitadoras –,
tornando cada indivíduo possuidor desses recursos um coautor.
Todavia, as diversas
ferramentas tecnológicas (Twitter, WattsApp, Facebook, Instagram, etc.) à disposição
dos jovens são apenas acúmulo de recursos, uma ampliação em esfera universal de
diferentes formas de diálogo, em um mundo digital. Infelizmente, muitas vezes,
disseminam a violência verbal e outras atitudes capazes de romper o bem-estar
social dos indivíduos.
Desta forma, a
cidadania acaba ganhando possibilidades maiores de enfrentamentos: em um mundo no
qual a inteligência pode expandir-se mas também pode retrair-se, o problema
central, de certa forma, não é em relação ao uso dessas importantes
ferramentas, mas sim ao seu mau uso, de forma constante, que pode causar
diversos prejuízos na escola e em outros setores da sociedade.
Pode-se afirmar ainda,
segundo Costa (2006, p. 38), que “A escola cidadã é escola autônoma e, portanto,
escola de qualidade política. Somente assim a escola conseguirá atender as
necessidades típicas do tempo-espaço atual, definido pela velocidade de
mudanças globais.” É essencial a aproximação das pessoas no
diálogo e no aperfeiçoamento da convivência, pois evidenciam-se, notadamente,
as contradições geradas por uma sociedade apática e, muitas vezes, gananciosa, que
limita o acesso a direitos fundamentais, caracterizando-se como uma sociedade
passiva e violenta.
A escola é um ambiente único, em que o aluno vai
descobrir novos horizontes; não vai, por exemplo, desenhar uma árvore sempre da
mesma maneira: utilizando seus conhecimentos próprios, iluminado pelo professor
e pelas pessoas que o cercam, terá a possibilidade de mudanças, disporá de
novas técnicas para desenhar aquela determinada árvore, formas de pintura mais
eficientes, assim como uma postura voltada para o partilhamento de
conhecimentos.
Em um exemplo atual, tem-se
que em muitos lugares, inclusive nas redes sociais, a conduta das pessoas é redirecionada
para outro fim: são conduzidas para outra cidadania, aquela considerada como
não ideal. Isso se dá, analogamente, como se mostra a conduta de um cardume de
peixes: muitos peixes nadando juntos, em uma mesma direção, estão disfarçando
seu tamanho real mas, quando um peixe vira em sentido contrário,
consequentemente, todos os outros viram de imediato, em sequência, ou seja, trata-se
de uma simulação de presença.
Da mesma maneira se
manifesta a interação no mundo digital, muito utilizado pelos
jovens/adolescentes: estes acabam por reconhecer que têm uma atividade
política, cidadã, de participação, porque registram um like na rede social, dizendo ou querendo transmitir uma ideia que apoiam,
uma determinada causa, em vez de ter uma militância concreta. Obviamente ficam
apenas no campo do desejo, muito líquido, muito fluido, que acaba por não ter
efeito algum.
A cidadania deve ser
respeitosa, em uma atividade cooperativa, de trabalho partilhado para o
crescimento coletivo e, posteriormente, a mudança; caso contrário, caminhamos
cegamente para chegarmos ao limite da degradação do meio ambiente, do consumo
desenfreado, na luta contínua contra a outra pessoa que está ao lado e, por fim,
à extinção da humanidade.
Os seres humanos são
dotados de inúmeras vontades e anseios. Por exemplo, um pai leva seu filho para
o parque de diversões em um domingo ensolarado; o filho, com oito anos de
idade, aguarda na fila do brinquedo que somente crianças com menos de seis anos
poderiam utilizar; ao chegar ao responsável pelo brinquedo, o pai distorce a realidade
dizendo que seu filho tem somente seis anos; o filho, indignado pelo fato de o
pai errar sua idade, contesta-o; imediatamente, o pai lhe dá algumas “palmadas”,
definitivamente educa-o para a postura não ética de mentir sempre que existir
uma possibilidade de obter um benefício. Esse filho acaba por adquirir uma
postura não cidadã.
Segundo Cortella e Barros Filho (2014), ética é escolha, um conjunto de valores e princípios que
aprendemos e adotamos. “Ela impacta tudo o que está no nosso cotidiano, é a proteção
da decência, é sempre a tua e a minha capacidade de não descuidarmos daquilo
que nos ajuda em relação ao nosso modo de sermos decentes.” Para o
jovem, não somente os conteúdos ministrados em geografia, e nas demais disciplina
presentes no Ensino Médio, mas todo o processo de sua formação, que envolve a escola
e, da mesma forma, fora dela, sua família, amigos e pessoas que estão em sua
volta, também é fator determinante para a consolidação de sua conduta – portanto,
reflexo de sua convivência até então.
El lugar es una
comprensión que supone una identificación de los ciudadanos con las cosas, las
personas y sus relaciones en determinados locales. El lugar es auténtico porque
es el espacio de lo vivido hoy o ayer, pero con la particularidad de que se aprehendido
con identificación con los objetos, los ciudadanos y sentimiento de pertenencia. (ADAMS; ANDREIS, 2012, p. 05.
Muitas vezes, no
mercado de trabalho, permanece um conceito de “cidadania” atrelado à divisão de
classes, em que um determinado grupo possui poder diante de outro e atitudes
benemerentes, como o fato de se oferecer um emprego a um sujeito, surgem como
um favor: a empresa não precisa do operário, é o operário que precisa da
empresa. Desta forma, percebe-se uma cidadania na perspectiva mercantil.
Las personas
están permanentemente ejerciendo o sujetándose al poder territorial. Las cosas
y las personas en el espacio cotidiano, algunas veces comprehendido como lugar
de identificación y pertenencia, en interacción con las manifestaciones del
paisaje y en relaciones influenciadas por la territorialidad, van constituyendo
su ciudadanía. (ADAMS; ANDREIS, 2012, p. 05.
Exemplos de discussões
sobre a importância da participação de cada um na preservação ambiental não
deixam claro, em muitas ocasiões, que a cidadania não se restringe somente a
tal atitude humana, mas exige a construção de uma forma de pensar e agir que
priorize a autonomia e construa a consciência de participação social como algo
amplo e necessário.
Os alunos devem, a
partir do conhecimento adquirido em casa e na escola, estabelecer modos
construtivos de convivência e nas relações de trabalho, respeitando o próximo e
seguindo padrões éticos que propiciem a harmonia na sociedade em que vivem.
Conforme o pensamento gramsciano, a educação é um processo contínuo, e a escola,
uma via fundamental para a realização de uma educação humana que considere a
disciplina no agir, na qual o indivíduo aprende à medida que faz escolhas.
4.2 UM DIÁLOGO COM OS JOVENS SOBRE CIDADANIA E
GEOGRAFIA
Considerando a escola e
a educação os principais agentes responsáveis pela formação cidadã, torna-se
necessário conhecer e analisar a organização curricular como um todo. É
importante destacar que as orientações curriculares no Brasil afirmam que “[...]
o ensino de geografia pode levar os alunos a compreenderem de forma mais ampla
a realidade, possibilitando que nela interfiram de maneira mais consciente e
propositiva.” (BRASIL, 1997, p. 108).
Vale destacar que os
Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam a ética com um tema transversal, a
ser trabalhado por todas as disciplinas do currículo escolar, enfatizando que “[...]
a geografia abrange as preocupações fundamentais apresentadas nos transversais,
identificando-se, portanto, com aquele corpo de conhecimentos considerados como
questões emergenciais para a conquista da cidadania.” (BRASIL, 1998, p. 26).
Desta forma, o ensino de geografia deve
oferecer e dar condições de conhecer e saber interpretar as mudanças no espaço
geográfico; pensar a realidade; criar argumentos para diagnosticar problemas e
possíveis soluções; utilizar os conceitos, categorias e procedimentos deste
campo do conhecimento para compreender e analisar as condições geográficas da região
e, acima de tudo, do município e bairro onde se reside. Santos (1994) considera
muito importante, fundamental para a vida cidadã a dignidade dos sujeitos e,
para o pleno aprendizado, acima de tudo, o conhecimento produzido ao longo de
sua história, que deve ser apropriado pelo jovem. Conforme constante na obra de
Santos (1994), devemos ter consciência de qual é a realidade atual, no país e
no lugar onde estamos inseridos. Desta forma,
[...] para ter
eficácia, o processo de aprendizagem deve, em primeiro lugar, partir da
consciência da época em que vivemos. Isso significa saber como o mundo é e como
ele se define e funciona, de modo a reconhecer o lugar de cada país no conjunto
do planeta e o de cada pessoa no conjunto da sociedade humana. É deste modo que
se podem formar cidadãos conscientes, capazes de atuar no presente e de ajudar
a construir o futuro. (SANTOS, 1994, p. 121).
A partir das questões mencionadas, da
cidadania a ser ensinada na escola, de seus possíveis exemplos de presença nos
conteúdos de geografia que orientem para a consolidação da aprendizagem cidadã,
conforme apresenta Pinsky (1999, p. 18), assim tomamos a
interpretação de “cidadania”:
[...] enfaixa uma série de direitos,
deveres e atitudes relativos ao cidadão, aquele indivíduo que estabeleceu um
contrato com seus iguais para a utilização de serviços em troca de pagamento
(taxas e impostos), e de sua participação, ativa ou passiva, na administração
comum [...] operacionalmente, cidadania pode ser qualquer atividade cotidiana
que implique a manifestação de uma consciência de pertinência e responsabilidade
coletiva.
Os jovens possuem
diversas definições do conceito de “cidadania”. Todavia, para tratar dela, não
é necessário utilizar a palavra “excluídos”, que pode ser percebida de forma
muito sutil no contexto: as pessoas podem sim excluir-se por si próprias, como
uma determinada pessoa se exclui do mundo digital, mas, acima de tudo, destacam-se
aqueles que são vítimas da economia, da política, da convivência; e assim
vai-se em direção, em busca do autor, ou seja, de quem produziu o dano. Porém,
ao final, todos devem assumir uma postura, uma atitude e realizar por conta
própria a mudança necessária para construir uma sociedade mais justa e
democrática.
4.2.1
Metodologia
Nesta etapa do trabalho,
torna-se importante explanar como se desenvolveu a metodologia da pesquisa,
explicando em que contexto ocorreu, como foram escolhidas as pessoas para a
investigação e outros fatores importantes que não podem ser desconsiderados
para tal elaboração.
Para a realização da
pesquisa em que foram produzidos os dados, direcionou-se a atenção a duas
escolas pertencentes à 4ª Gerência de Educação do Estado de Santa Catarina,
Brasil. Localizadas no oeste de Santa Catarina, as duas escolas possuem
aspectos idênticos em relação ao ensino: ofertam Educação Fundamental e Ensino
Médio, sendo que este é em período integral (matutino e vespertino); são escolas
que também recebem alunos de municípios vizinhos, por diferentes fatores,
ligados a distância entre casa dos alunos e escola; o calendário escolar é o
mesmo em ambas as escolas, assim como no restante das escolas públicas do
estado de Santa Catarina.
A pesquisa se
constituiu em uma amostra aleatória, tendo sido entrevistados 18 alunos do 3°
ano do Ensino Médio em cada escola. Os professores permaneceram em sala de aula,
acompanhando o procedimento e estando inteiramente disponíveis para qualquer
esclarecimento. A pesquisa foi direcionada somente para os alunos, sendo que o
diálogo com os professores, principalmente os de geografia, também prevaleceu;
foi possível identificar, em diferentes situações, diversas visões referentes
aos conteúdos de geografia ministrados em sala de aula.
O presente trabalho de
pesquisa enquadra-se na abordagem qualitativa do problema, não descartando as
dimensões quantitativas mas focando nas dimensões de relação entre o problema e
seu contexto de origem, compreendendo-o de forma a relacioná-lo não a valores
numéricos e percentuais, mas a processos interpretativos (ACAFE, 2007).
A pesquisa qualitativa não
parte do princípio de que há uma única forma de se conduzir estudos e
resultados; as ciências humanas e sociais não devem igualar-se às ciências
naturais, ou seja, alguns resultados de pesquisa não podem ser comparados,
dimensionados ou mensurados (ACAFE, 2007). Além disso, é importante destacar
que
[...] a
abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre
o mundo real e o sujeito. [...] O objeto não é um dado inerte e neutro; está
possuído de significados e relações que sujeitos concretos criam em suas ações.
(CHIZZOTTI, 1998 apud ACAFE, 2007, p. 10).
Quanto aos seus objetivos, este trabalho se caracteriza como descritivo.
O objetivo descritivo, por sua vez, é destinado a
descrever e explicar as características do contexto de origem do problema, sua
realidade; visa estabelecer as relações existentes entre inúmeras variáveis,
explicitando-as (ACAFE, 2007).
Considerando essas
questões, este estudo visa analisar a contribuição da Geografia para a formação
cidadã no Ensino Médio e o conhecimento dos alunos acerca do termo “cidadania”.
A pesquisa aconteceu no primeiro semestre de 2017, em duas escolas da rede
estadual (Gered Chapecó – 4ª região) de Santa Catarina. Optou-se por essas duas
escolas (denominadas neste trabalho de Escola
1 e Escola A) pelo fato de o pesquisador
ter realizado estágio I, do Ensino Fundamental, na 6ª fase de graduação, em uma
delas escolas; e ter cursado o Ensino Médio na outra unidade escolar, o que
garante maior familiarização do acadêmico com os dirigentes e docentes da
escola, facilitando a realização da pesquisa. Ainda, considerou-se o fato de que
as duas escolas ofertam o Ensino Médio de forma integral (turnos matutino e
vespertino).
Foi aplicado
um questionário (anexo 1), sendo que as questões definidas para abordar os
dados produzidos, conforme anteriormente indicado, podem ser apresentadas em
dois grupos: 1- O que significa
cidadania?; 2- Você aprende a ser
cidadão com os conteúdos e as aulas de Geografia? Explique citando um exemplo.
Optou-se pelo questionário dado seu objetivo principal: levantar “[...]
opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas
etc.” (GIL, 1999, p. 128). O questionário foi formulado com questões abertas,
possibilitando que os sujeitos envolvidos pudessem responder as perguntas de
acordo com suas percepções, não se adequando a alternativas preestabelecidas
(GIL, 1999).
Foi realizada, também, uma análise de todo o contexto histórico acerca
do termo “cidadania”, consulta bibliográfica dos estudos já realizados, uma
reflexão sobre as possibilidades do ensino de geografia na Educação Básica para
uma sociedade mais ativa e consciente. Dessa forma, é possível perceber os
discursos dos alunos, além de confrontá-los com as frequentes mudanças
comportamentais na sociedade atual.
As escolas que
participaram da pesquisa assinaram a Declaração de Ciência
e Concordância (anexo 2), resguardando o comprometimento ético da pesquisa.
Após o término da coleta de dados, as informações obtidas foram sistematizadas
e analisadas conforme a bibliografia consultada, visando compreender os
objetivos a que se propõe este Trabalho de Conclusão de Curso.
4.2.2
Dados da pesquisa de campo
Tão importante quanto a coleta de dados, a análise e
interpretação dos dados obtidos é fundamental para o descobrimento ético da
pesquisa. Analisados com base no referencial teórico anteriormente apresentado,
os dados devem conduzir a respostas diante do problema de pesquisa, apontando
alternativas para as questões. A análise dos dados fez-se após aplicação dos questionários
aos alunos do terceiro ano do Ensino Médio, contemplando duas unidades escolares
no município de Chapecó.
Os gráficos e quadros a seguir indicam o
entendimento do conceito de “cidadania” expresso pelos estudantes no momento de
preenchimento dos questionários. Em uma primeira análise, percebe-se que, assim
como salienta Callai (2014, p. 7), a questão que devemos levar em consideração
é a de que “[...] a cidadania não é algo neutro e que possa existir a partir de
si mesmo. É sem dúvida uma questão de direito universal e de princípios
republicanos, mas é também em seu acesso e exercício algo datado e situado.”
É necessário um olhar direto e muito
importante para a reflexão sobre a real condição social e cultural do aluno,
para uma construção sólida de valores morais e éticos capazes de criar uma
sociedade com menos repressão, com uma maior capacidade de reflexão sobre seus
atos e condutas na sociedade, prezando pelo desenvolvimento sustentável e por menos
diferenças sociais.
Os alunos pesquisados,
que aceitaram o convite para participar desta investigação, comprometendo-se em
colaborar com a pesquisa, assim como esclarecido no termo de concordância (anexo
2) assinado pelas duas unidades escolares, tiveram suas identidades
resguardadas, tal qual as duas unidades escolares, que serão apresentadas ao
longo do texto como Escola A e Escola 1.
Participaram da
pesquisa 36 alunos nas duas unidades escolares: 19 (57%) do gênero feminino e
17 (43%) do gênero masculino. A idade dos alunos varia de 16 a 20 anos de idade:
20 alunos têm 17 anos (52%), 12 alunos têm 16 anos (34%), 3 alunos têm 18 anos
(11%) e 1 aluno tem 20 anos (3%). Percebe-se que a grande maioria dos alunos
possui idade compatível com a série que cursa, ou seja, entre 16 e 17 anos de
idade. Tendo em vista seu estágio como concluintes do Ensino
Médio, entendemos que esses participantes da pesquisa podem expressar dados
para entendermos a relação entre Geografia e cidadania.
Apresentando-se as
questões, com relação ao entendimento dos alunos sobre o significado do termo “cidadania”,
percebe-se que sua opinião dividiu-se entre a associação do termo a uma
sociedade com direitos e deveres, a um conjunto de pessoas que contribuem para
o melhoramento da sociedade ou, simplesmente, ao estar presente na sociedade,
conforme o quadro 1.
Quadro 1 – O que
significa “cidadania”?
Escola
A
|
Escola
1
|
É
um conjunto de pessoas que forma a sociedade, um conjunto de cidadãos que é a
cidadania.
|
Ajudar
e ser ajudado, ser cidadão, ter direitos e deveres, exigir e ser cobrado.
|
Cidadania
é um conjunto de pessoas que acompanha uma sociedade.
|
Ser
cidadão, viver em sociedade, ser inserido em uma sociedade.
|
Como
princípio, fazer parte de um grupo de pessoas, ser um cidadão e contribuir
para o melhoramento da comunidade em que vive, cumprir os deveres e cobrar os
próprios direitos.
|
Cidadania é
uma coisa que você aprende e poderá melhorar e ajudar as pessoas.
|
Cidadania
é o conjunto de ações que compõem nossa participação na sociedade.
|
Cidadania,
ser cidadão, conviver em sociedade.
|
É
ser um cidadão presente na sociedade; todos temos direitos e deveres, ser
ético.
|
Ser
cidadão é basicamente estar inserido em uma sociedade, cidadania são os
pontos inseridos na sociedade. Por exemplo, realizar atividades em conjunto. Cidadania
é referente a ser cidadão com direitos e deveres, e com o necessidade de
cumpri-los.
|
É fazer parte
da sociedade, expondo suas ideias, lutando para conseguir seus direitos, mas
também não se esquecendo dos seus desvios como pessoa.
|
Ter
cidadania é ser uma pessoa aberta a outras opiniões.
|
Significa
fazer parte de uma sociedade onde temos nossos valores.
|
Bom,
a primeira coisa que vem na cabeça, a população, os direitos.
|
Para
mim, cidadania é o direito do cidadão (pessoas) se expressar, garantir seus
direitos através da sua opinião.
|
Ser
uma pessoa de bem, cumprir as normas, mas não viver regrado por elas,
conseguir se colocar diante da sociedade. Ajudar por vontade própria.
|
A
cidadania é ser cidadão, ter respeito com o próximo.
|
Modo
em que a comunidade colabora, meios sociais, intenções, grupo de pessoas e seus
direitos.
|
Significa
que você sai da favela, mas a favela nunca sai de você!!
|
Significa
ter direitos no lugar onde mora, no país, saber sobre o país.
|
Ser
cidadão em uma sociedade, com deveres e direitos.
|
Cidadania
é ter direitos na sociedade, mas saber também que há deveres a ser cumpridos,
respeitar o direito dos outros, e saber até onde vai o seu.
|
Ser
um cidadão (pessoas) melhor para o mundo, participar da nossa cidade como
pessoas.
|
Ajudar
as pessoas em sua volta.
|
De
acordo com os meus conhecimentos, cidadania é tudo o que envolve o ser
humano.
|
É
a vida em comunidade, cooperação e desenvolvimento sustentável.
|
Sociedade.
|
Participar nas
eleições, elegendo pessoas honestas e éticas no que fazem.
|
Cidadania é o conjunto de
ações de um cidadão cumprindo direitos e deveres, participando das decisões
políticas e vivendo em sociedade.
|
Cooperar com o próximo,
mas no Brasil os problemas são de ordem social, já que há muita pobreza. Isso
poderia ser realizado se houvesse uma preocupação maior dos governos e da
população de melhor renda perante a pobreza, destinando recursos ou criando
empregos para melhorar a qualidade de vida dessa parte da população.
|
Cidadania significa
exercer ao máximo, ou praticar, os seus deveres e ao mesmo tempo desfrutar de
seus direitos.
|
Cidadania significa ter
emprego, é o mais fundamental, pois com ele as pessoas podem ter seu dinheiro
e acabariam todos os problemas sociais, a cidadania seria plena e todos
teriam paz.
|
Ajudar o outro, ser
cidadão, saber ser uma pessoa melhor, sem querer nada em troca.
|
É uma
pessoa ajudar a outra, não ser individualista e ter um espírito de
cooperação.
|
É ter direitos iguais,
empregos para todas as pessoas e distribuição de renda ideal para melhorar a
sociedade.
|
Cidadania
é a luta pelos direitos. As pessoas acabam votando nos políticos que já
tentaram fazer tanta coisa e mesmo assim não tiveram êxito.
|
Fonte:
elaboração própria (2017).
Para o exercício da
cidadania de forma plena, foram mencionados problemas que envolvem o
relacionamento entre as pessoas. Na concepção dos pesquisados, eles seriam
solucionados se as pessoas se percebessem como iguais, com direitos iguais e
com deveres iguais. Assim, um aluno da Escola 1 descreve que ter direitos
iguais implica uma sociedade que forneça oportunidades de emprego para todas as
pessoas e, consequentemente, distribuição de renda ideal para tornar a
sociedade cada vez melhor.
Na mesma linha
direciona-se um aluno da Escola A que menciona, igualmente, a questão do
emprego no Brasil: “Cidadania significa ter emprego, é o mais fundamental, pois
com ele as pessoas podem ter seu dinheiro e acabariam todos os problemas
sociais, a cidadania seria plena e todos teriam paz.” Já alguns alunos fizeram
menção aos governantes do nosso país, prezando por um maior comprometimento e
seriedade em suas decisões, de modo a promover o diálogo entre os partidos
políticos em prol da construção de uma sociedade mais justa: “Cooperar com o
próximo, mas no Brasil os problemas são de ordem social, já que há muita
pobreza. Isso poderia ser realizado se houvesse uma preocupação maior dos
governos e da população de melhor renda perante a pobreza, destinando recursos
ou criando empregos para melhorar a qualidade de vida dessa parte da população.”
Muitas das
problemáticas citadas pelos alunos não são novidade, pois diversos problemas
que afligem a sociedade vêm se arrastando há décadas, decorrentes do aumento
populacional intenso, sem um planejamento eficaz que acompanhasse as frequentes
(re)organizações da sociedade. Neste sentido, os conteúdos das aulas de
geografia devem mostrar diariamente as perversidades da globalização,
fornecendo dados atualizados de aumento e diminuição de aspectos gerais que condicionam
a qualidade de vida da população no Brasil, propondo uma comparação com os
diferentes países do mundo. Desta forma, pode-se fornecer ao aluno uma visão
crítica sobre as principais causas que geraram o dano e apontar algumas
soluções para sanar o problema exposto.
A partir dos
apontamentos realizados, fica evidente que a eficiência na construção das
resoluções deve partir das classes mais abastadas e, de forma central, das
ações governamentais. Tais pressupostos – por exemplo, ao apontar-se como
solução que os governos elaborem projetos – têm como base, indiretamente, a
falta de poder das classes subalternas, desresponsabilizando os indivíduos de
exercerem a sua cidadania, na luta pela permanência e pela conquista de novos
direitos.
No entanto, os jovens
possuem muitos recursos de exploração de informações e têm contato com o mundo
exterior de modo mais intenso comparativamente ao que se vivia há algumas
décadas.
Vivemos em um mundo com transformações diárias, que interferem
na vida de bilhões de pessoas de forma direta ou indireta. Precisamos, pois, ficar
atentos para mantermos os direitos existentes e lutarmos pela criação de um
país bom para todos, em que não seja necessário ser rico para ter saúde,
educação, saneamento de qualidade; um país democrático; uma nação unida. Ora, a
cidadania é um direito universal.
Também a partir da
temática das desigualdades sociais, os alunos citaram como problemas que
afligem a sociedade moderna questões que envolvem o relacionamento interpessoal
e sociopolítico: o preconceito, a discriminação, a violência; e questões que
envolvem as relações sociais dos indivíduos: a corrupção, a pobreza e a
miséria.
A partir da pesquisa
realizada, constatou-se que toda a estrutura social repassa uma forma de pensar
que incapacita os indivíduos diante das problemáticas identificadas com maior frequência.
Em vez de utilizar seu poder para capacitar ao envolvimento, ela o faz de forma
contrária, objetivando tornar os sujeitos meros objetos, passíveis de
manipulação. Presencia-se uma realidade em que prevalece uma consciência
contrária à participação social, caracterizada por certa “terceirização da
cidadania”.
Alguns alunos colocaram
como uma das maiores problemáticas da sociedade o “pensamento individualista”. Este,
por si mesmo, pode ser percebido como consequência do sistema capitalista que
dissemina um conjunto de ideologias caracterizadas pela competição, pela
aceitação das injustiças, pela negação dos direitos, resultados preocupantes
que, somados, causam grandes crises políticas, estagnação econômica do Estado,
além de distorcer toda a imagem de uma conduta cidadã e, consequentemente, da cidadania
plena em uma nação. Não existe uma cultura de cooperação, de autonomia, de
emancipação; prega-se, mesmo que de forma indireta, uma cultura que aceite a
realidade de dominação e trabalhe para que ela se mantenha. Faz-se necessário,
pois, romper com as ideologias do sistema e perceber mais amplamente a
realidade em que vivemos.
Também restou evidenciado
que um dos adolescentes não acredita mais numa sociedade com menos corrupção, ele
justifica isso afirmando: “[...] eles (os políticos) já tentaram fazer tanta
coisa e mesmo assim não tiveram êxito.” Neste caso, permanece a consciência
crítica, mas tal consciência vem desresponsabilizada de ações individuais que
possam influenciar no bem comum, pois o sujeito cita “eles” e não “nós”; o sujeito
não se inclui na ação.
O impulso primeiro é
exigir que o Estado se posicione, utilize seu poder para modificar todos os
ambientes nos quais residem as maiores problemáticas. Existe uma grande
resistência no que se refere à conscientização do compromisso que cada um
possui na definição dos rumos da sociedade.
Nessas citações,
reflete o pensamento de muitos outros adolescentes que, pasmos diante de uma
situação complexa, são induzidos pela ordem vigente a perceberem-se sem poder
para transformar e sem autonomia para construir um posicionamento diverso do
proclamado pelas ideologias dominantes. Parte dos adolescentes possui
consciência da importância do exercício da cidadania, das deficiências e dos
elementos que podem construir uma sociedade mais centrada no bem-comum; no
entanto, uma outra parte dos alunos não tem interesse em adotar uma
participação ativa dentro da sociedade e não reconhece possíveis deficiências,
atribuindo a outrem a responsabilidade pelas transformações societárias.
Para falarmos de
cidadania, e como ela é praticada em uma cidade, estado ou país, precisamos
analisar todas as contradições, influências e condições sociais presentes; não
somente descrevê-las, mas também apontar alternativas para melhorar essa
condição, inserindo novas práticas pedagógicas no ensino de geografia. A escola
é responsável pela escolarização dos alunos, mas não age de forma individual na
formação do indivíduo: os pais o fazem de forma primária – a escola entra de
forma secundária nesse processo. Não podemos responsabilizar a escola de modo
que fique encarregada de todas essas etapas de construção do real cidadão. Há
que analisar a conduta das pessoas desde crianças, fatos que aconteceram na sua
vida, ou mesmo fantasias que assumem um valor real na sua vida – todo o
contexto que perpassa a mente do indivíduo, e construído a partir de sua
história.
O jovem não poderá adotar uma postura de apenas olhar e
apontar para os outros, esperando que os outros indivíduos façam algo para
mudar. Há que partir de cada sujeito a capacidade de reflexão, analisando a
própria conduta: “o que eu, como personagem inserido neste cenário, tenho feito
para realizar, de fato, uma transformação para melhor no espaço a que todos
pertencemos?”
“Ética”, termo também mencionado pelos alunos, é questão
central; coloca-se como um conceito que a escola tem que assumir de fato. O
professor exerce uma função heroica em sala de aula; pois que da mesma forma a
ética seja estimulada pela família também.
No que diz respeito ao direito à política, penso que todo
aquele que vive na área educacional precisa de certa forma trazer o tema da
política para a sala de aula, para o espaço escolar. Mas não se deve
partidarizar seu estudo; a política partidária é apenas um ligamento, uma
vertente, isso não significa que é a única e nem a melhor forma de fazer
política. Podemos utilizar diferentes recursos pedagógicos, mecanismos que
auxiliem os alunos no sentido de fazer uma boa política, descrevendo geografia,
história, sociologia, filosofia, entre outras disciplinas, no condomínio ou no
bairro onde o aluno reside. Também discutindo a política na família, em relação
à convivência e seu aperfeiçoamento. Desta forma, estaremos problematizando e
qualificando o modo como o indivíduo se relaciona com as outras pessoas na
sociedade.
Segundo Santos e Kahil (2007), é no espaço
geográfico que os processos sociais ocorrem e é através de seu estudo que o
aluno compreende a dinâmica dos lugares, já que o lugar não está sozinho, mas é
reflexo de um todo. As transformações políticas, sociais, econômicas e
culturais articulam-se no lugar de diferentes maneiras, resultando em objetivo
a ser alcançado segundo suas particularidades.
Os meios utilizados
para ensinar geografia, de uma forma geral, podem aliar conteúdos e assuntos atuais
sobre economia, política, esportes, música etc. Como Milton Santos (1987)
descrevia em suas publicações, há que ensinar geografia em forma de enredos,
juntamente com filosofia e arte. Isso tudo no intuito de formar um cidadão
ético, ciente dos seus direitos e deveres, tendo como principais objetivos
analisar o espaço geográfico, compartilhar as vivências e aperfeiçoá-las, promovendo
novas ideias para uma sociedade melhor, articulando e aproximando o aluno de
sua realidade.
Na segunda questão da
pesquisa, ao indagarmos os alunos sobre se realmente aprendem a ser cidadãos
com os conteúdos e as aulas de geografia, a grande maioria dos pesquisados,
considerando as duas escolas, respondeu que sim. Dos 36 alunos pesquisados,
apenas 2 responderam que não, as aulas e os conteúdos de geografia não auxiliam
na formação cidadã; estes não justificaram suas respostas com exemplos,
conforme quadro 2.
Em resposta à
solicitação para explicar sua resposta citando um exemplo, os alunos assim
enunciaram.
Quadro 2 – Escola A: Você aprende a ser cidadão com
os conteúdos e aulas de Geografia?
Sim
|
Não
|
|
Conhecimento geral é amplo na
geografia.
|
Aluno
não respondeu.
|
|
No contexto histórico, geografia... o
processo de evolução da humanidade.
|
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Conhecendo o mundo e as relações
políticas e sociais, aprendemos a perceber o certo e errado, conhecendo
nossos direitos e deveres.
|
||
No segundo ano, aprendemos um pouco,
mas agora, no terceiro, ainda não tocamos no assunto.
|
||
Sim, porque aprendemos o que é ser
cidadão.
|
||
Conhecimento amplo do mundo.
|
||
Relacionando com o espaço geográfico,
sociedade, pessoas...
|
||
O professor manja nas coisas.
|
||
Conhecendo o meio onde vivemos e as
diferenças, formamos nossas concepções.
|
||
Aprendemos o valor da geografia e seus
conhecimentos.
|
||
Pois temos a discussão do nosso dia a dia
em sala.
|
||
Respeitar as regras.
|
||
Conhecendo o mundo, estudando a
geografia, formulamos opiniões e assim desenvolvemos nossa participação ativa
na sociedade.
|
||
Conforme a maneira que estudamos o
espaço em nosso redor e da forma que ele é construído.
|
||
Aluna
não respondeu.
|
||
Porque, se seguimos os passos das
aulas, a gente entende o que é certo e errado.
|
||
Você aprende a ser um cidadão de bem,
que respeita os outros, entre muitas outras coisas.
|
||
Fonte: elaboração
própria (2017).
Entre as diversas
justificativas em relação à questão que aborda os conteúdos e as aulas de
geografia para a formação cidadã, um(a) aluno(a) diz que sim, os conteúdos e as
aulas de geografia são essenciais, pois a “formação ética e profissional é
importante para uma sociedade mais democrática”. Neste sentido, refletir sobre
a questão da quantidade total de pessoas que, no Brasil, têm a possibilidade de
qualidade de ensino, acesso e condições básicas para uma formação sólida e
contínua ainda está distante, pois infelizmente somos uma sociedade dividida
por classes, ou seja, a própria educação já condena as pessoas com escolas de
primeiro, segundo e terceiro níveis, assim como a saúde também é um bem do
mercado.
Em relação à educação,
somente como exemplo, registramos que ainda temos no Brasil 13 milhões de
pessoas com mais de 18 anos de idade que não leem o lema da própria bandeira,
“Ordem e Progresso”; e há outra grande parcela que se encontra em grandes
dificuldades de diálogo. É necessário, para obter os resultados esperados, uma
formação ética e profissional. Além disso, como mencionado por diversos alunos,
a orientação através dos conteúdos de geografia, mas também uma maior
participação e preocupação do Estado como um todo, por uma sociedade sem
privilégios e com acessos iguais para todo cidadão.
Outro jovem pesquisado
na Escola A faz menção às aulas de geografia como fundamentais, pois trazem
consigo conteúdos que fornecem condições de distinguir o que é certo e o que é
errado na vida em sociedade. Neste sentido, o objetivo central do sistema
escolar é a formação de um cidadão socialmente consciente e participativo; a
contribuição da escola, bem como dos conteúdos direcionados aos alunos, se
define na perspectiva de possibilitar ao educando todas as condições de
desenvolvimento humano que possibilitem a ele conhecer e compreender a
realidade atual, para de fato tomar decisões eficazes na construção de seus
espaços.
O grande potencial de
contribuição da geografia decorre necessariamente da sua própria natureza, pois
é a ciência que trata essencialmente da conduta do homem e, certamente, dos
elementos naturais. Cabe a ela capacitar os jovens para que não somente aprendam
a observar e analisar, mas também refletir a todo momento, avaliando sua
conduta, o contexto político-econômico etc.
Ainda na Escola 1,
outro jovem pesquisado faz um breve discurso sobre os conteúdos de geografia e
sua importância para a formação cidadã: “Conhecendo o mundo, estudando a
geografia, formulamos opiniões e assim desenvolvemos nossa participação ativa
na sociedade.”
Para outra aluna da
Escola A, os conteúdos e as aulas de geografia orientam para a formação cidadã
pois possibilitam uma análise de todo o processo de construção da sociedade:
“No contexto histórico, geografia... o processo de evolução da humanidade.”
Assim, a geografia traz consigo a capacidade de especificar onde ocorrem, como
ocorrem e por que ocorrem determinados eventos, mas, acima de tudo, analisa as
inter-relações entre os elementos que compõem esse ambiente em diferentes
escalas (local, regional e inter ou supranacional).
Analisando o
posicionamento dos alunos quanto ao tema cidadania, apesar de algumas respostas
indicarem que os conteúdos orientam para a formação cidadã, temos diagnosticado
um sistema educacional que não foi pensado por seus professores e alunos, foi
algo pensado por uma esfera maior. “Ele foi construído por cima, pelo Estado
instrumentalizado pela burguesia [...]” (VESENTINI, 2010, p. 16). Sendo assim,
pensar em uma educação que leve o aluno a conhecer seus direitos e deveres como
cidadãos requer, em certa medida, um esforço maior, ou seja, habilidades e
coragem por parte do professor da Educação Básica.
É preciso
procurar a todo custo evitar o comodismo intelectual e a burocratização das
relações sociais e educacionais [...] é uma das mais importantes tarefas para
que o ensino não apenas reproduza as demandas para ampliação da modernidade,
mas, principalmente, contribua para formar cidadãos mais ativos e críticos e
com isso uma sociedade cada vez mais democrática [...] (VESENTINI, 2010, p.
26).
Requer-se uma nova forma
de pensar e planejar os currículos escolares, alunos que sejam capazes de
sempre formar sua própria opinião, afinal, não poderão sentar, ouvir e aceitar
qualquer discurso a eles impostos. “A Geografia analisa o físico, mas o estudo
do físico em si mesmo não tem sentido, ele só o terá se for considerado como
dominado pelo homem e ligado à ideia de um espaço em que se exerce uma
determinada cidadania.” (PEREIRA, 2009, p. 27).
Quadro 3 – Escola 1: Você aprende a ser cidadão com
os conteúdos e aulas de Geografia?
Sim
|
Não
|
Aprendemos os direitos e vida social
no país.
|
Aluno não
respondeu.
|
Aprendemos como é o país, a viver
nele, os direitos do lugar.
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Por meio da comunicação, usando
exemplos da sociedade.
|
|
Pois estudando geografia irá
compreender um pouco mais o mundo ao seu redor, tudo o que está ao seu redor.
Um exemplo é a questão política.
|
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O planeta, o universo, solo... esses
conteúdos são interessantes.
|
|
Aluno não
respondeu.
|
|
Conteúdos voltados à sociedade e aos
diversos problemas.
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Tocar
violão na sala com os alunos.
|
|
Porque
você aprende a ser uma pessoa melhor.
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Atividades
voltadas à sociedade.
|
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Economia
e alguns direitos.
|
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Entender
melhor a conduta e organização da sociedade.
|
Aluno não respondeu.
|
|
Pois
aprendemos a ter um pensamento crítico sobre os fatos que assolam a
sociedade.
|
|
É
necessário para adquirir novos conhecimentos sobre a realidade do mundo.
|
|
Aprendemos
a ter uma postura correta diante dos problemas diários da sociedade moderna.
|
|
Formação
ética e profissional é importante para uma sociedade mais democrática.
|
Fonte: elaboração própria (2017).
Pode-se perceber na
análise das respostas dos alunos pesquisados que a grande maioria possui plena
certeza da grande importância das aulas e conteúdos de geografia ao longo de
suas vidas escolares. Afirmam que, a partir dos conteúdos de geografia,
criam-se regras de convivência, o diálogo é exercitado e aprimorado
constantemente, o conflito que poderia acontecer em casa ou no convívio com os
colegas também sofre mudanças para melhor.
Salienta em sua resposta
uma aluna da Escola 1: “formação ética e profissional é importante para uma
sociedade mais democrática”. Outro aluno respondeu que sim, que os conteúdos e
as aulas de geografia auxiliam na formação cidadã, mas não soube justificar com
exemplos, o que demonstra muitas dúvidas do pesquisado em relação ao termo “cidadania”,
a como ela está presente nos conteúdos de geografia como um todo.
A análise também revela
que a cidadania não é algo que se aprende somente na escola, e na escola poderá
não ser vista como algo em construção. A educação do cidadão poderá ser vista
por muitas pessoas como não concretizada se não “gerar” a confirmação de um
emprego, numa perspectiva de ponto de equilíbrio e ajustamento à ordem social.
As escolas não devem
somente dispor de um PPP como formalidade, mas têm de apresentá-lo aos
professores, pois somente pleno conhecimento deste será possível efetivar
soluções para o melhoramento de propostas de formação cidadã que tenham como
objetivo o desenvolvimento democrático no ambiente escolar. Conforme Gadotti (2000), a escola, como formadora
de sujeitos, deverá sempre dar o primeiro exemplo.
Assuntos relacionados a
preconceitos devem ser tratados com orientações no sentido da conduta ideal dos
alunos, prevalecendo a participação e formação de grupos de estudo na escola,
rodas de debates, eventos essenciais para aliar conteúdos da disciplina de
geografia com fatos ocorridos atualmente na sociedade. É muito importante
trabalhar a educação em direitos humanos, num ambiente educativo muito mais
mobilizador de aprendizagem significativa para todos os alunos, de modo que os
jovens aprendam e se constituam como sujeitos do direito e atores sociais,
construindo uma sociedade mais justa.
Acredita-se, conforme Carvalho e Vlach (2007), que
os conteúdos geográficos podem e devem contribuir efetivamente para formar
cidadãos plenos e ativos, na perspectiva de contribuir à compreensão de
problemas enfrentados atualmente no mundo, muitos dos quais estão ligados a aspectos
da convivência social, ao não diálogo entre as pessoas no seu sentido mais
amplo.
Castrogiovanni (1998) acredita na importância e
mesmo na necessidade de uma educação voltada para a cidadania, considerando os
valores e os padrões culturais da vida e de aprendizagem dos grupos sociais.
Segundo o autor, é pela educação que tais sociedades podem expressar sua
cultura, seu saber e defendê-los a fim de impedir a massificação e a
globalização de outros valores tidos como certos e universais. É importante destacar que, na
maioria das respostas dos jovens pesquisados, identificam-se muitos indicativos
de que essas perspectivas ultrapassadas estão sendo superadas, impulsionando
uma possível prática que contribua, efetivamente, para a formação cidadã de
todos os educandos.
Os alunos
foram capazes de compreender e afirmar, em sua grande maioria, que os conteúdos
de geografia são essenciais para a formação cidadã, como processo necessário
para a superação das desigualdades sociais que exploram as camadas
trabalhadoras, subjugadas historicamente. A formação cidadã é necessária em
todos os países do mundo; deve ser estimulada a prática do diálogo, a superação
das indiferenças, de hábitos considerados padronizados e morais ditos
necessários pelas camadas dominantes. A formação cidadã pressupõe posicionamento
crítico das camadas populares, eterna vigilância e aperfeiçoamento das práticas
democráticas, fazendo valer a sua força na luta por condições dignas de
subsistência.
Entretanto, a
responsabilidade por uma formação cidadã dos jovens, em todo seu desenvolvimento,
não está apenas nas mãos dos educadores ou professores. Esta deve ser uma
preocupação de toda a sociedade, à qual cabe dar apoio permanente, auxiliar e
valorizar o trabalho de todas as pessoas envolvidas nesse processo,
principalmente na escola. Não se deve perder de vista esta tarefa, que, afinal,
não é somente de um componente curricular, mas está presente em toda a grade
escolar e, consequentemente, vai seguir permeando sua formação superior,
moldando a caminhada dos sujeitos na construção de uma sociedade cada vez
melhor.
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