Multinacionais brasileiras

A nova divisão internacional do trabalho é cada vez mais determinada pelas estratégias das empresas multinacionais, ou transnacionais. São empresas que geram grande parte das receitas em operações fora do seu país de origem. Essa é uma tendência que cresceu no bojo da globalização das últimas décadas do Século XX.

Dois aspectos principais chamam a atenção no recente Relatório Mundial de Investimentos da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento), recentemente divulgado. O primeiro é que os investimentos diretos estrangeiros (IDE´s) globais estão em franca recuperação e cresceram 28,9% em termos nominais em 2005. O segundo aspecto é o crescimento dos investimentos Sul-Sul, entre países em desenvolvimento.
Tradicionalmente a internacionalização das operações dos grandes conglomerados globais se dava na direção Norte-Sul. Desde a década de 1970, as empresas européias, norte-americanas e japonesas expandiam suas operações e isso representava um choque de competitividade nas economias em desenvolvimento. Mais recentemente, na última década, cresceram bastante os investimentos no exterior realizados por empresas oriundas de países em desenvolvimento. O estoque de investimentos diretos estrangeiros feitos por essas empresas subiu quase dez vezes entre 1990 e 2005, saindo de US$ 147 bilhões para US$ 1,4 trilhão.
O Brasil, que há dez anos se coloca entre os cinco principais paises em desenvolvimento absorvedores de investimentos diretos estrangeiros, também tem posição de destaque entre os maiores investidores no exterior. Petrobras, Vale do Rio Doce e Gerdau são empresas brasileiras que aparecem no ranking das 50 maiores entre os países em desenvolvimento. Mas há muitas outras, igualmente bem sucedidas, como Alpargatas, Weg, Marcopolo, Sadia, Perdigão, etc.
O estoque de investimentos diretos brasileiros no exterior atingiu US$ 71,5 bilhões em 2005. Isso nos coloca em sexto lugar no ranking, após Hong Kong, com US$ 470 bilhões, Ilhas Virgens Britânicas, US$ 123 bilhões, Rússia US$ 120 bilhões, Cingapura, US$ 111 bilhões e Taiwan, US$ 97 bilhões.

Estoque de Investimentos Diretos Estrangeiros realizados por Países em Desenvolvimento
 
 

 
Ranking 2005(US$ bi.
1Hong Kong470
2Ilhas Virgens Britânicas 123
3Federação Russa120
4Cingapura111
5Taiwan97
6Brasil72
7China46
8Malásia44
9África do Sul39
10Coréia do Sul36
11Ilhas Caiman34
12México28
13Argentina23
14Chile21
15Indonésia14
Nº de países em desenvolvimento e transição 
Fonte: UNCTAD, elaboração do autor
O que isso representa para o Brasil? Como tudo em economia, há aspectos positivos, mas também negativos no processo. Os positivos estão associados à maior robustez das empresas brasileiras, que adotaram estratégias ativas de inserção internacional por meio não apenas da exportação, mas da instalação de filiais no exterior. As vantagens estão associadas ao maior acesso ao mercado internacional de capitais, maior presença local nas várias regiões do mundo, superando barreiras tarifárias e não tarifárias. Adotando estratégias ativas de crescimento deixam de ser alvo fácil de uma eventual aquisição por parte de um grande concorrente global.
No entanto, no caso brasileiro, o que também tem ocorrido é que devido à falta de condições mais favoráveis de competitividade, muitas empresas estão transferindo para o exterior suas operações. Fatores importantíssimos para a empresa competir em escala global, especialmente juros, financiamento, carga tributária, questões regulatórias, entraves burocráticos, e mais recentemente câmbio valorizado, têm inviabilizado a produção e exportação. São os mesmos fatores que afetam negativamente as decisões de investimentos externos no País. Isso provoca impactos negativos sobre as estruturas industriais, a cadeia de fornecedores, o emprego, a renda e o potencial de exportações, especialmente aquelas de maior valor agregado.
Há, portanto, uma diferença entre o movimento estrutural de internacionalização de empresas brasileiras, que de forma ativa ampliam sua atuação no exterior e a estratégia defensiva de empresas, que transferiram sua produção para outros países, em busca de condições mais favoráveis de competitividade. O primeiro movimento é agregador, o segundo, é substitutivo!
Como os fatores negativos podem ser revertidos, ao mesmo tempo em que os positivos podem ser potencializados, o futuro vai depender as estratégias adotadas. Isso vale, não só para as empresas, agentes importantes, mas também e principalmente para políticas públicas que venham a favorecer as condições para os investimentos de fora para dentro e de dentro para fora do país.

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